quinta-feira, 25 de junho de 2009

Uma questão teórica

Uma questão teórica
Na oficina III, gestar 2, quando falávamos nas dimensões sintáticas, semânticas e pragmáticas que envolvem a linguagem nas suas modalidades oral e escrita e, que, as três devem seguir paralelas nas aulas de Português, uma das cursistas mencionou que “falando” era tudo “muito bonito”, mas na prática... era complicado.
Isso me fez repensar profundamente e deparei-me com um livro esquecido na prateleira, o abri, e sem censurar o que me afligia, busquei solução. Falo do “Ensino de Língua Portuguesa- uma abordagem pragmática”, da autora Lívia Suassuna, em específico o capítulo 4, “Uma parte de mim é todo mundo”, onde a referida autora bebe das palavras de Ferreira Gullar aplicando às questões dicotômicas que envolvem os professores de Língua Portuguesa. O capítulo concorda com as novas práticas sugeridas no Programa Gestar II, o qual tem também nos levado a tais questionamentos.
Na experiência pessoal narrada por Lívia, ela diz: “Uma grande dúvida me incomodava, na ocasião. Se ser professor de língua não é o mesmo que ser professor de gramática, o que ensinar então? E aí, começou um processo doloroso, trabalhoso – eu tinha que me virar, tinha que imaginar o que faria em sala de aula, resguardando, é claro, a especificidade da matéria ( no caso, Português ).
Tal fato é o mesmo que nos atormenta, como agir? O que fazer? Que linguagem devemos priorizar? Devemos corrigir situações ridicularizadas pela gramática normativa? Ou, favoreceremos o papel principal da comunicação?
No parágrafo seguinte Lívia continua: “resolvi, então, que eu queria dos meus alunos o exercício de quatro habilidades fundamentais: ler, escrever, ouvir e falar. Em seguida, elegi, como eixo do programa, a variação lingüística – para ir contra uma pedagogia tradicional, que primava pela negação do heterogêneo, só havia um caminho: trabalhar com a língua nas suas mais diversas manifestações, tal como se apresenta para nós na “vida intensamente vivida’.
Realizar um trabalho diferente do convencional requer um projeto político pedagógico com maior abrangência, não um planejamento individual, isolado, mas, algo onde todos da escola (no mínimo) tratem o ensino língua portuguesa dentro da mesma visão. A escola está a ampliar conhecimentos partindo do que o aluno já trás (internalizado) sobre o mundo de modo geral. Isto se dá em todas as disciplinas.
Revendo o pensamento de outros autores, como: Vanoye (1983), Ilari e Possenti (1985), Lemos (1983), Camacho (1978), Geraldi(1985) e outros, assim como eles, Lívia posiciona-se que a língua padrão deve ser mesmo ensinada/aprendida na escola. E, se tal argumentação está epistemologicamente fundamentada, compreende-se que “toda e qualquer forma de conhecimento é legítima e nenhum professor pode sonegar saber ao aluno, seja ele quem for. O saber não é de ninguém especificamente, mas deve ser de todos, pois é por todos construído. Dessa forma não há por que excluir saberes e pessoas do processo pedagógico”.
Sim, não é necessário e nem há por que excluir “este ou aquele”, o professor deve oportunizar ao aluno o domínio de mais uma forma de falar – o dialeto padrão, sem que isso signifique a depreciação da forma de falar predominante em sua família, em seu grupo social. Querendo ou não essa língua padrão é um dos caminhos ao rompimento de acesso ao poder... “é a possibilidade de o aluno-sujeito apropriar-se de novos sistemas de referência, por meio dos quais agirá sobre o outro e sobre o mundo em que ele se insere- o mundo que, pela enunciação possa conquistar e transformar”. (p.148)
Concomitantemente está o Gestar2, o mesmo reforça que a língua padrão deve estar situada como uma instância a mais, um dialeto a mais, e não, o maior, o melhor, o mais bonito...Só se ensina socializando, e neste caso está o conhecimento internalizado, está todos os elementos da interação comunicativa, está a melhor adequação. Se somos nós os próprios detentores da língua, não há motivo para discriminação.

Rosângela Santiago Ribeiro.

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